Como se superar na bateria, ultrapassando suas dificuldades mais rápido e com maior qualidade, além de ter mais criatividade?

 

Já adianto que não é "promessinha vazia de internet", o que você vai ler aqui é real, aprofundado e prático, um conhecimento que vai evitar que você caia mais em conversa fiada, superficial e perca seu tempo.

 

Meu objetivo com essa aula é sanar suas dúvidas de como aprender o que parece difícil, com uma eficiência muito maior. 

 

São 3 os pilares para que você evolua com qualidade, o primeiro deles APARENTEMENTE óbvio, mas os outros bem menos e com detalhes pouco ensinados.

 

Primeiro Pilar: PRÁTICA

 

Prática se refere ao desenvolvimento da cinestesia ,que é nossa capacidade de reconhecer nosso corpo e movimentos no espaço, que engloba toda coordenação e nossa noção de espaço|tempo tocando. 

 

Caso interessante:

 

Nos anos 50, um homem chamado de HM (para proteção de sua identidade) realizou uma cirurgia com foco na cura da epilepsia.

 

Essa cirurgia removeu uma parte do cérebro chamada hipocampo, área responsável pela formação de novas memórias, que posteriormente se transformam em memórias de longo prazo, além de processar e conectar emoções às memórias.

 

Com isso, HM não era mais capaz de se lembrar de nada que aconteceu após a cirurgia. Sua memória de curto prazo foi apagada, bem como a possibilidade de formar novas memórias de longo prazo. As memórias de longo prazo previamente formadas, como quem ele era, sua família e sua infância, foram mantidas.

 

Os médicos que tratavam dele tinham que se apresentar todos os dias e explicar novamente sua condição. Existe um filme com um caso similar chamado: Como se fosse a primeira vez.

 

A partir desse caso, muitas descobertas foram feitas a respeito do cérebro, memória e aprendizagem. Por exemplo: um teste motor foi feito com ele, onde colocavam uma folha na frente com uma figura desenhada, porém bloqueavam a visão direta dele para esta folha. Na frente dele era posicionado um espelho, assim, ele tinha a visão da folha com o desenho somente através do reflexo à sua frente.

 

O teste era ele tentar contornar a figura olhando apenas para o reflexo. Um teste de coordenação.

 

Eles fizeram esse teste uma vez por dia em SEQUÊNCIA e em nenhuma vez ele lembrava do teste. os médicos tinham que explicar tudo de novo a cada novo dia. O que você acha que aconteceu com o passar dos dias?

 

No incício foi desastroso, mas depois de 10 dias ele conseguiu contornar a figura de primeira com perfeição. O que isso significa?

 

Significa que se você praticar coordenação (ritmos, movimentos técnicos, rudimentos, viradas) de maneira concentrada e em sequência, você vai memorizar e melhorar, independentemente de qualquer outro fator.

 

A memória muscular entra no automático, assim como quando você come e sabe que vai levar o garfo até a boca e não furar seu olho sem precisar pensar nisso. O mesmo acontece quando você caminha ou corre, digita, ou anda de bicicleta. 

 

Uma descoberta incrível, porém existem 2 fatores cruciais quando se leva isso para a música:

 

1 - Se você entrar no automático com movimentos errados, você vai ter que recomeçar pra destravar esse ponto. 

 

2 - Se você se fixar somente na coordenação, movimentos, etc, você vai conseguir executar, porém vai ser um péssimo músico.

 

Como a gente viu no caso do HM, é possível você aprender movimentos que podem servir pra fazer música sem ouvir nenhuma música, entender nenhuma música, ou lembrar de uma música. E é por isso que muita gente estuda, estuda e tem zero ideias criativas, zero conhecimento de aplicação, zero musicalidade.

 

A forma de aprender e coordenar os movimentos é implícita, enquanto muito do desenvolvimento da musicalidade, aplicação musical e criação são explícitas. Isso significa que você deve estar consciente vivendo a música, precisa sentir, pensar e aplicar conscientemente para melhorar. Terá que lembrar das músicas, das melodias, dos ritmos, além de conseguir conectar sensações e emoções a essas memórias.

 

Segundo Pilar: CONTEXTO

 

O nosso cérebro não tem armazenamento infinito. Temos a ilusão de que tudo que vivemos fica armazenado em algum lugar, claro e vívido, refletindo perfeitamente a realidade, e que bastaria aprender como acessar essas memórias.

BOBAGEM, você vai enfraquecer até deletar o que não for crucial pra sua sobrevivência, ou seja tudo aquilo que não for importante no seu contexto de vida atual. 

 

É preciso contextualizar, estar inserido e inserir seu estudo em contextos musicais e aplicações, mesmo que mentalmente.

 

Exemplo: se um gringo que nunca ouviu muito samba aprender um groove de partido alto e apresentar para qualquer brasileiro, provavelmente ficará evidente a descontextualização sonora, remetendo a algo que lembra, mas não é samba. Bem como, será muito difícil variar o groove, interagir, ou improvisar sem sair ainda mais do contexto samba.

 

Outro exemplo: se você pratica o paradiddle e suas variações, mas parte sem ter a menor ideia do contexto que ele pode ser inserido, sem nenuma ideia de aplicação prática, possivelmente será um estudo em vão, pois nada será usado. O único fator agregado será a coordenação.

 

Vou falar de um caso pra você entender melhor. Foi feito o seguinte teste:

 

Três grupos de pessoas foram separados. A missão dos grupos era simples: realizar lances livres numa cesta de basquete.

 

Para o primeiro grupo a missão foi dada de surpresa, sem aviso prévio e sem treino.

Para o segundo grupo foi dado um período de treino com a bola.

Para o terceiro grupo NÃO foi dada a bola, somente o tempo de treino, onde a pessoa ficaria imaginando o lance perfeito, realizando simulações mentais.

 

Quem se saiu melhor?

 

Os piores foram os que não tiveram tempo nem pra praticar e nem pra pensar. Os outros 2 grupos empataram.

 

Isso significa que a simulação mental é muito poderosa, então quando contextualizamos, ouvimos músicas e simulamos aplicações, possibilidades, nos conectamos ao contexto musical. Isso também é estudo, também ajuda a evoluir.

 

Exemplo: se você tirar uma música hoje, não ouvi-la mais, e em 7 dias treiná-la novamente, ela sairá melhor ou pior do que se você realizasse o mesmo processo, porém ouvindo a música com atenção uma vez por dia no intervalo entre um treino e outro? E se nesse tempo você tivesse ainda estudado exercícios que se encaixam legal no contexto da música, tem maior ou menor probabilidade de você conseguir tocar ela com personalidade e criatividade? Para as duas questões a resposta é sim.

 

Todo tem que ser contextualizado. 

 

Terceiro Pilar: CONSOLIDAÇÃO

 

Lembra que eu falei que no caso do HM retiraram uma parte do cérebro chamada Hipocampo e ele não conseguia mais fixar nenhuma memória? Então...

 

Nas memórias de curto prazo, tudo o que vimos e estudamos de relevante no nosso dia ficam armazenadas no Hipocampo, porém, durante o estágio final do sono, essas memórias são consolidadas junto com o restante das nossas memórias de longo prazo numa área chamada Neocórtex.

 

Por isso, muita do que estudamos hoje parece fazer mais sentido amanhã. Porque se torna possível consolidar as novas informações com todo restante que já sabíamos.

 

Quando não dormimos o suficiente, essa informação não é passada do Hipocampo para o Neocórtex, e como o espaço do Hipocampo é limitado, a informação vai ficar confusa até sumir totalmente.

 

Então é sempre uma péssima ideia “estudar enquanto os outros dormem” porque você NÃO vai fixar nada direito se não dormir bem. 

 

E agora vem os detalhes que nos interessam.

 

Como o hipocampo tem espaço limitado, é muito melhor você estudar um pouco por dia e dormir bem, do que passar o final de semana todo tocando e não estudar nada durante a semana.

 

"Você aprende um pouco, dorme e consolida isso junto com outras informações, estuda mais no outro dia, dorme e consolida contextualizando tudo mais uma vez. É um aprendizado muito mais sólido e rápido, mesmo se tratando de prática."

 

"Tentar estudar tudo junto de uma vez é tipo tentar comer e beber muito só no sábado pra não precisar ingerir nada nenhum outro dia da semana. Nem cabe tudo que você precisaria, vai dar ruim. Pro cérebro é igual."

 

O aprendizado é sequencial, adição de conhecimento com o tempo adequado de repouso e recuperação pra que haja a consolidação do aprendizado.

 

Divida sua semana certinha com as matérias que vai estudar e praticar, ouça música, se insira no contexto, tenha objetivos e descanse. 

 

Outro dado interessante a respeito do sono, é que nosso cérebro tende a fixar de 4 a 5 vezes mais o que nós somos expostos 1 hora antes de dormir. Sabemos que tocar batera de noite é um problema, mas você pode ouvir música, simular mentalmente uma aplicação, ler uma partitura, ouvir um podcast sobre música, enfim, um contexto que você queira consolidar. 

 

Os povos antigos costumavam agradecer, orar, ou contar histórias sobre suas caçadas, vitórias, conquistas e superações de dificuldades antes de ir dormir. Talvez isso tenha ajudado nossa civilização a prosperar, não é mesmo?

 

Resumão então:

 

Pilar 1: Prática sequencial - prepara seu corpo, seus movimentos e sua coordenação.

 

Pilar 2: Contexto - percepção musical, teoria, ouvir e tocar, ouvir e escrever, ler e reproduzir, inspiração e objetivos.

 

Pilar 3: Consolidação através do sono - integração das ideias, transformação da prática em conhecimento de longo prazo.

 

Espero que tenha feito sentido pra você. Um abraço e até a próxima aula.